Eu não estava planejando escrever sobre este tema, tenho até um texto sobre criatividade e coragem engatilhado, mas nos últimos dias pertencimento ficou pipocando na minha mente, então decidi transbordar para o papel. Que a leitura te faça lembrar dos seus grupos ao longo da vida, dos maiores às pequenas panelas, do quando eles foram abrigo e fizeram você se sentir parte de algo maior. Vamos!
A gente gosta de pertencer, é da nossa natureza, a gente pode ter sonhos grandes e rebuscados, mas bem lá no fundo, a gente só quer ser aceito, amado, valorizado, visto, isto é importante em cada fase da nossa vida. A propósito, a nossa evolução foi possível graças à nossa capacidade de desenvolver laços e relacionamentos que nos agrupavam em bandos, vilarejos, cidades, metrópoles, megalópoles ... Os grupos são complexos, mas são também uma fonte de segurança, afeto, proteção e um campo para o autodesenvolvimento, estar inserido neles é essencial porque nenhum de nós é uma ilha. Ainda bem.
Essa semana tá rolando um mundial de clubes de futebol sediado nos EUA. O Brasil mandou quatro times para a competição, meu filho torce pro Corinthians, time que ficou em casa assistindo Palmeiras, Flamengo, Botafogo e Fluminense jogarem bola na gringa. Pra quem não é de São Paulo cabe aqui um esclarecimento, Corinthians e Palmeiras são rivais, vivem se arranhando e quando se encontram, o clássico pega fogo. Pasme você, mas Dudu tem torcido pelo Palmeiras e, diante da minha estranheza, justificou “eu estou torcendo pra todos os brasileiros, esses europeus vivem nos humilhando, são racistas com o Vini Júnior, xenofóbicos, minha torcida é dos brasileiros”. Ele deu conta de passar um pano na rivalidade interna para torcer por algo maior, a nacionalidade. Ele está inserido no grupo de corinthianos e, circunstancialmente, o grupo “brasileiros” o fez pensar em vibrar a cada jogada do menino Estêvão, um brazuca de 18 aninhos que joga muita bola. Pertencimento. Grupo.
Também nessa semana os brasileiros acompanharam apreensivos o acidente, e a falta completa de resgate adequado, da Juliana, num vulcão na Indonésia. As mídias sociais, os canais de televisão, as conversas no café e os jornais davam conta da imensa comoção que esse assunto causou. Cada um de nós torceu para ela ser encontrada viva, mesmo diante dos fatos, que minavam essa esperança. Juliana era uma de nós. Sozinha, com frio, sede e fome, deslizando dentro da neblina num buraco do outro lado do mundo. Quando da notícia da morte, a gente sentiu impotência, se perguntou por que não deu tempo, a gente lamentou e ainda está lamentando. Juliana fazia parte do grupo de brasileiros e a gente reagiu de acordo, quis protegê-la. Nesses poucos dias não importava muito quem era Palmeiras ou Corinthians, em quem a gente vota pra presidente, a empresa que a gente trabalha, nossa religião ou em que estado a gente nasceu, éramos brasileiros lamentando a morte trágica de uma brasileira jovem. Não vou problematizar as críticas e julgamentos que alguns fizeram pelo fato de Juliana ser uma mulher sozinha vivendo uma aventura na Ásia. Os grupos são assim, somos mais de 200 milhões de brasileiros, cada um com liberdade de pensamento.
Muitos grupos nascem de convenções, a linha imaginária que delimita nossas fronteiras e faz um bebê nascer baiano e outro carioca, judeu ou palestino, alemão ou russo. A gente já nasce pertencendo a muitos grupos, e ao longo da vida vai escolhendo ou aleatoriamente sendo escolhido para tantos outros, eu tenho a irmandade da igreja, o grupo de enfermeiros, o grupo de baianos, o de mulheres corredoras, de mães, o grupo de leitores e dos escritores de newsletter, o setor que trabalho na empresa, a empresa. São muitas as possibilidades e elas estão em constante transformação. Vamos deixando um pedacinho de nós e levando conosco um pedacinho das pessoas que compõem essa rede de apoio. Não somos uma ilha.
Abaixo um exemplo de grupo de sucesso, meu pai, todo mocinho feliz, comemorando seu aniversário de 70 anos com o time, um grupo que ele conduz desde que eu me entendo por gente. Lá se vão pelo menos 40 anos …
Vou finalizar te agradecendo.
Muitíssimo obrigada por estar aqui comigo, nesse grupo de pessoas que recebe minha carta semanal e com quem compartilho minhas reflexões. É um imenso prazer tê-lo por aqui. Imenso mesmo.
Excelente fim de semana e um abraço apertado aí,
Dê